Quem é Thaís Helena?
Thaís Helena Modesto Villar de Carvalho, tem 26 anos, é nascida e criada na periferia da cidade de Santos/SP e é Assistente Social.
Desde pequena Thaís foi inserida por sua família no mundo do samba. Aos 5 anos de idade, ela aprendeu a ser porta-bandeira com sua avó de coração Nalu, que era porta-bandeira da Império do Samba e esposa do Dráuzio da Cruz, porque o samba também é um ato de resistência e perpetuação da cultura negra. Atualmente, Thaís Helena é segunda porta-bandeira da Escola de Samba Unidos dos Morros, atual tricampeã do carnaval!
Além de aprender a ser porta- bandeira, Thaís nos seus 5 anos de idade, também foi morar na maior favela de palafitas da América Latina, no Dique da Vila Gilda, território onde ainda mora e milita atualmente, e devido a precariedade habitacional do qual Thaís e sua família foram submetidas, ela precisou militar e estudar precocemente o direito à moradia digna em busca de melhores condições de moradia para sua família e para sua comunidade.
Graças a luta pela política de ações afirmativas, cotas raciais, ingressou na universidade pública aos 19 anos, na Universidade Federal de São Paulo- UNIFESP/Campus Baixada Santista, no curso de Serviço Social em 2017, e logo primeiro período do curso se dedicou a estudar a política habitacional e urbana nacional e municipal.
A princípio, o interesse nesta temática advinha de sua vivência enquanto moradora de uma das palafitas. Porém, ao ingressar na universidade, Thaís elaborou estudos e pesquisas, em diversos espaços de formação profissional, como grupos de pesquisas e extensão que abordavam esta temática, fazendo com que sua história pessoal e coletiva do seu território de moradia, se tornasse uma área em que almejava atuar profissionalmente como assistente social.
Por isso, Thaís participou de diversas aulas, congressos e eventos sobre território, políticas sociais e participação social, discutindo desenvolvimento urbano, discutindo sobre o uso do território e suas implicações na vida da classe trabalhadora, discussões sobre cidades e autogestão, a luta por moradia e justiça social, ingressando em mais de vinte cursos de formação profissional complementar sobre habitação, urbanismo e direito à cidade em instituições que são referência nesses temas, como por exemplo, o Instituto Polis, o Fórum do Trabalho Social em Habitação de São Paulo, Grupo de Estudos e Pesquisas Metropolitanas em Política Social e Serviço Social- MEPSS, projeto de extensão Práticas Sociais Urbanas, o Grupo de Estudos e Pesquisas Cidade, Habitação e Espaço Humano (GEP-CIHAB)- atividades vinculadas ao Programa de Pós-Graduação em Serviço Social da Universidade Federal do Pará- (UFPA), Universidade de São Paulo- (USP), a Universidade Federal do Agreste de Pernambuco, entre outras.
Foi convidada a palestrar em diversos eventos como Ciclo formativo de Território Urbano e Lutas por Moradia, (2021), Assistência técnica de habitação de interesse social e suas potencialidades como política pública: porque pensar sobre habitação e direito à moradia (2020) e no 2º seminário de sensibilização do poder público pelo Conselho Federal de Arquitetura e Urbanismo (CAU/SP).
Thaís também foi conselheira titular, nomeada pela direção do campus e pela vice-reitora, à representar a Universidade Federal de São Paulo- UNIFESP/BS, no Conselho Municipal de Desenvolvimento Urbano de Santos- (CMDU) por três anos desde 2020. Foi delegada nas últimas duas conferências municipais de habitação em Santos. E também, fez estágio em Serviço Social na secretaria de Habitação de Osasco, onde recebeu a oportunidade de cumprir três semestres do estágio em 2022, para que pudesse aprender e lutar para trazer a experiência de uma secretaria de habitação para Santos, pois não temos uma secretaria de habitação em nossa cidade. Trabalhou também por mais de 4 anos com a lei 11888/2088 Assistência Técnica de Habitação de Interesse Social, que é uma lei federal que visa atendimento de melhoria habitacional para famílias de até 3 salários mínimos.
Mas, havia uma inquietação que movia Thaís a estudar direito à moradia: Porque a maioria da população negra e, principalmente, as mulheres negras são as mais atingidas negativamente, quantitativamente e qualitativamente, pela precarização do direito à moradia?
Foi então que ela elaborou por 3 anos um estudo aprofundado sobre racismo na política habitacional e urbana, retratando sobre quais instrumentos dessas políticas perpetuam o racismo estrutural em nossa cidade. Neste trabalho, Thaís entrevistou mulheres negras em situação de precariedade habitacional e ou ameaçadas de despejos moradoras da maior favela de palafitas da América Latina localizada na cidade de Santos/SP como um dos exemplos da relação entre racismo, habitação e urbanismo.
Sua pesquisa teve muito êxito, sendo esta sua principal contribuição na luta antirracista. A pesquisa cujo título é: “Eu não tinha condições de pagar um aluguel decente: a política habitacional e urbana segundo a perspectiva da(s) mulher(es) negra(s)”, foi seu trabalho de conclusão cuja banca avaliadora, foi a filósofa Djamila Ribeiro, sob a orientação da Profa. Dra. Tania Maria Ramos de Godoi Diniz. Profissionais assistentes sociais da Secretaria de Habitação de Osasco também avaliaram este trabalho.
Thaís se recusou, a defender este trabalho, dentro da universidade, como é o rito formal de costume em apresentações de trabalho de conclusão de curso-TCC, solicitando que a banca junto com a universidade fosse até o Dique da Vila Gilda, para a realização da defesa deste trabalho, no seu território de moradia junto com as mulheres negras entrevistas neste trabalho e toda a comunidade. E assim foi, junto à banca avaliadora e mais de 80 pessoas da comunidade e também pessoas de outros cantos da cidade de Santos, estiveram presente no Dique da Vila Gilda, sendo uma participação coletivamente da defesa deste trabalho.
Como o Dique da Vila Gilda tem um alto índice de analfabetismo, Thaís e outros profissionais produziram um documentário com entrevistas dadas por mulheres negras moradoras das palafitas para este trabalho. O documentário intitulado de “Mulheres da Maré: qual a cor das palafitas?” foi exibido no dia da defesa no Dique da Vila Gilda para que de maneira inclusiva e didática todas/os da comunidade pudessem saber do que se tratava este trabalho. O documentário esta disponível no Youtube, que tem sido exibido em salas de aula de diversos cursos de graduação em faculdades de Santos, como pratica pedagógica antirracista sobre o direito à cidade, pois retrata como a política habitacional e urbana reproduz o racismo estrutural e institucional atingindo principalmente as mulheres negras no processo de moradia.
Em 2022/2023 pela relevância acadêmica, popular, política e comunitária desta pesquisa/trabalho de conclusão de curso-TCC, esta pesquisa se tornou um livro pela editora de escritores e escritoras negras e negros da baixada santista- Periferia Tem Palavra com parceria institucional da Universidade Federal de São Paulo. O lançamento deste livro, foi realizado no “Sarau das Pretas- Mulheres negras são como raízes” sarau este, organizado por Thaís e por outras companheiras negras militantes históricas de Santos e os diversos coletivos de pautas feministas, antirracistas e de luta por moradia digna, dentre eles coletivos em que Thaís também é integrante e militante como por exemplo: Coletivo Feminista Antirracista Maria Vai com as outras, Quilombagem literária, Núcleo de Lideranças de Mulheres da Zona Noroeste, grupo Mulheres da Maré, e outros grupo que também compuseram este sarau como o Coletivo de empreendedoras negras AFROTU, entre outros.
Os 100 primeiros exemplares deste livro foram vendidos em 1 hora de lançamento, e o Sarau das Pretas foi um marco na história do campus baixada santista da UNIFESP, nunca antes havia um evento que reuniu tantas mulheres negras naquele espaço de conhecimento. Aproximadamente cem mulheres negras compareceram no local de diferentes lugares e periferias da cidade de Santos.
Thaís também participou do Seminário Nacional de Serviço Social e Habitação publicando um trabalho intitulado Serviço Social, cidade e racismo. Também, participou dos potentes encontros da Escola Preta, e do Ciclo formativo Cidades Antirracistas do Instituto Polis, algo que foi essencial para sua formação.
Em 2024, no dia 26 de julho, Thaís Helena foi condecorada com uma honraria municipal, recebendo o troféu Dandara dos Palmares, pelo Conselho Municipal Conselho Municipal de Participação e Desenvolvimento da Comunidade Negra e de Promoção da Igualdade Racial de Santos - CMPDCNPIR e Prefeitura Municipal de Santos, pela sua contribuição na luta antirracista na cidade enquanto pesquisadora, escritora, acadêmica e assistente social por melhores condições de mordia para população negra.
Atualmente, Thaís tem pós-graduação em Gestão Municipal, e faz mestrado em Serviço Social e Políticas Sociais na Universidade Federal de São Paulo e também, está elaborando uma nova pesquisa sobre quais possíveis caminhos devem ser adotados pela política habitacional e urbana para construção de cidades antirracistas.
Alguns materiais e registros dos feitos citados....